Teu olhar está abatido, está para baixo, não conseguindo desfrutá-lo. Teu olhar é enigmático, preciso decifrá-lo. Como preciso!
Teu olhar até que é bonito, mas pra onde a moça bonita está olhando? Ah como eu queria que fosse para mim... Mas pra mim não é, é pra outro que a machucou por muito tempo que nem viva ela quer está. Se o olhar está vazio, imagina o coração que só bate para o corpo repousar no carro.
Mas como os meus olhos estão...
E COMO!
Ao contrário dos dela, meu olhar é de felicidade. É de "alguma sujeirinha caiu no meu olho" para não dizer que é lágrima. Sim, meus olhos cor de nada estão tudo. Estão marejados. Estão apaixonados.
Mas a moça só quer apressar o motorista para ir embora daquela festa que ela vai fazer questão de esquecer.
Quando eu percebi que o motorista girou a chave e estava pronto para partir, eu bati na janela dela. De instinto, ela recuou, se assustou.
- Ei, calma. Eu só queria te dar um oi.
E ela bem devagar como se não desse bola para os ponteiros do relógio girando, abriu a janela.
- Pois não? - ela disse friamente.
E no tom da voz dela, eu gelei. Eu travei. Não sabia o que dizer, as palavras queriam sair da minha boca, mas só saía ar, ar. Eu queria pegar na mão dela e dizer que mesmo que seu olhar esteja acanhado existe um brilho nele e esse brilho me pegou desprevenido e sonharei com ele ou não conseguirei dormir pois estarei pensando nele. E, lógico, ela sorriria e voltaria para festa comigo.
Mas nenhuma dessas frases ela ouviu porque sou covarde.
- Desculpe-me, pensei que era outra pessoa.
E terei que conviver com o "e se eu tivesse falado o que pensei falar para ela".
